segunda-feira, 31 de março de 2008

"Uma folha na tempestade"- Lin Yutang


Um dos meus livros favoritos. É dificílimo de achar(a edição que eu tenho é de 1958, para dar uma idéia), então quem topar com ele numa livraria ou sebo não tenha dúvidas: compre! "Uma folha na tempestade" é um livro de Lin Yutang, um dos mais famosos autores chineses,(a tradução brasileira-derivada da versão em inglês- foi feita por ninguém menos que Monteiro Lobato). Nascido em 1895 Yutang presenciou momentos chaves da história contemporânea da China, como o avanço do imperialismo e as duas grandes guerras. Suas experiências pessoais e as de seus contemporâneos foram plasmadas nesse romance. "Uma folha na tempestade", romance de 1941, segue a trajetória de três personagens através das influências culturais e políticas do imperialismo e os efeitos da Segunda Guerra e das atrocidades cometidas durante a ocupação japonesa. Os personagens principais são: Poya, um rico homem de negócios com uma visão pragmática dos eventos, Lao Peng, melhor amigo de Poya, um budista preocupado com os dramas humanos ao seu redor, e Malin, uma jovem misteriosa, cuja vida flutua ao sabor dos acontecimentos históricos e políticos como a "folha na tempestade" do título. Seguem alguns trechos do livro:

"-(...)O imperialismo é uma arte humana.
-Não creio-replicou Tan.-É uma questão econômica. De oferta e procura, de matérias primas e mercados.
-É o que dizem as universidades-volveu Poya-Quando abrimos uma loja, é claro que temos de saber tudo a respeito de escrituração, compra de 'stocks', rendimento, depreciação, capital, crédito etc. Mas em última análise o que vale é a arte de fazer com que os fregueses gostem da loja e voltem. O imperialismo é uma arte humana muito sutil, é a arte de governar homens, especialmente homens de raças e crenças diferentes. Ao imperialista cumpre compreender a natureza humana"

"Não. O terror era o que o homem de uma raça pudesse fazer para o seu irmão de outra raça. Gorilas não agarram prisioneiros, embebem-nos em querosene e deitam fogo-coisa apenas para rir-"

domingo, 30 de março de 2008

"Amor e Guerra" - CNT

Na próxima terça, às 22:00hs o canal CNT vai passar o filme "Amor e Guerra" (Título original: "Resistance") Conta a estória de um soldado americano que se apaixona pela esposa de um dos membros da resistência belga. É um filme recente (2003) e pela chamada me pareceu ser mais um romance água com açúcar do que um filme centrado nos dados históricos, mas como essas chamadas televisivas podem ser bem enganosas acho que é assistir para descobrir...Mais informações:

http://www.65anosdecinema.pro.br/Amor_e_guerra.htm

FALCON, Francisco (Fichamento)

FALCON, Francisco. “O capitalismo unifica o mundo” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão (org.) O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. p. 11 a 76.

Introdução: Conceitos, espaços e tempos.
a) Conceitos
“Mercado”- O autor usa a definição moderna que toma “mercado” como “centro das trocas” onde a “troca real” (comércio) se dá por meio da moeda.
Sobre a existência do Capitalismo e do “Mercado internacional”: o autor admite duas teorias:
1ª- mercado internacional como “um processo que envolve os Estados modernos europeus, enquanto formações sociais diferentes(...)que disputam entre si os lucros(...) resultantes da exploração do comércio colonial” (pg. 17)O período anterior à Revolução Industrial é dito “pré-capitalista”
2ª-Perspectiva que vê o “mercado mundial”,uma totalidade que “integra e hierarquiza regiões e modos de produção”. “Há apenas uma transição, precisamente aquela que deu origem ao sistema (século XVI); a acumulação é um processo único(...)” (pg.17)
b) Os espaços e tempos
“Antigo regime econômico”- Predominância da agricultura / precariedade dos transportes / Indústria de bens de consumo
“Novo regime econômico”- Predomínio da produção industrial / maior rapidez e capacidade de transportar cargas maiores / crises de superprodução e flutuação de preços.
c) Historiografia da Expansão
Enfoque econômico e social: dá ênfase à tipologia da colonização e no caráter dependente das áreas coloniais
Enfoque na política da expansão: volta-se para as formas de resistência e práticas de cooptação ou interpenetração social.
Enfoque cultural: centrado nos “encontros, e desencontros de culturas e civilizações”

Parte I-A era do Capital(ismo) comercial.
a) Pressupostos políticos, sociais e culturais da expansão pré-capitalista
1.O quadro político: Estado Absolutista e desenvolvimento mercantil e manufatureiro
2.As estruturas sociais: Ordem estamental, crescimento da burguesia e seus negócios
3.Os dados culturais:crise da autoridade “antiga”, viagens transoceânicas, empirismo e avanços científicos, imprensa e difusão do saber.
b) A expansão mercantil
1. Antecedentes medievais
“Revolução econômica” dos séculos XI e XII; expansão marítima e comercial dos séculos XV e XVI
2.Circuitos comerciais: mercados intra-europeus e extra europeus
Circuito intra-europeu: mercados do Mediterrâneo, Atlântico, Báltico e Europa centro-oriental
Circuitos extra-europeus: Américas, “Índias” e China.

Parte II-A era do Capitalismo Industrial
-Introdução
Tradicionalmente divide-se a história do Capitalismo oitocentista em duas fases: do final do século XVIII até 1870-“Era do Capitalismo Industrial”- e de 1870 a 1914-“Era do Capitalismo monopolista e imperialista.
a)Pressupostos políticos e culturais da expansão
Industrialização e Estados-nações
Industrialização e constituição do proletariado levam ao surgimento de movimentos sociais, libertários ou nacionalistas. A burguesia industrial abandona o ideal de “revolução” à medida que esse passa a ameaçar a ordem / hegemonia burguesa.
O Nacionalismo exarceba a xenofobia o que, aliado ao cientificismo, leva ao desenvolvimento do Darwinismo social e geopolíticas racistas.
b)A expansão capitalista oitocentista
1.Características gerais:
Burguesia “conquistadora”
Aceleração da expansão pode ser creditada a dois fatores: a “grande depressão” (1873-96) e a emergência de novas potências-E.U.A, Alemanha, Japão etc...-
Elementos da expansão
Exploradores-aventureiros e cientistas, mapeamento de territórios
Missionários-ideal de evangelização
Militares-”heróis coloniais” que levariam a “civilização” aos “selvagens”
Empresários-exploradores de recursos e mercados
Lógica da expansão-”A expansão colonial oitocentista(...) apresenta-se assim como uma curiosa mistura de aventura, espírito científico, fé missionária, conquista militar e ambição e sede de lucro”. A expansão também é vista como “intrinsecamente benéfica” para os povos colonizados, aos quais levaria o “progresso e a civilização”
“Cenários” geopolíticos da expansão colonial:
- Império Otomano
-África sul-saariana
-Regiões Asiáticas

domingo, 23 de março de 2008

BERMAN, Marshall. (Fichamento)

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” pp. 24-49.

Sobre a modernidade e o “ser moderno”
Berman define a modernidade como um conjunto de experiências. “Ser moderno” é compartilhar dessas experiências, é encontrar-se num ambiente que promove “autotransformação e transformação das coisas em redor-mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.” (pg. 24) Ou seja a modernidade é um processo de constante mudança e destruição/reconstrução/destruição do nosso universo social.
Fases da modernidade
O autor divide a modernidade em três fases:
· 1ª fase-Início do século XVI ao fim do século XVIII
· 2ª fase-“Onda revolucionária” de 1790 até o Século XIX
· 3ª fase-Século XX
Início da Modernidade
Rousseau, com o romance “A nova Heloísa” exemplifica o clima da primeira fase da modernidade. Uma “atmosfera de agitação e turbulência(...)expansão das possibilidades de experiência e destruição das barreiras morais e dos compromissos sociais” (pg. 27) Seria o princípio do “turbilhão de desintegração e mudança”
Modernidade no século XIX
No século XIX, com o advento das revoluções ditas burguesas e o desenvolvimento tecnológico resultante da Revolução Industrial, com todas suas conseqüências sócio-econômicas, a modernidade passa por novas transformações:
Marx- “Todas as nossas invenções e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças materiais” (pg. 29) (...) “Todas as relações (...) com seu travo de Antigüidade e veneráveis preconceitos e opiniões foram banidas: todas as novas relações se tornam antiquadas antes mesmo que cheguem a se ossificar” (pg 31)
Nietzsche: “(...) A moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausências e vazio de valores, mas ao mesmo tempo em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades” (pg. 32)
Ambos, Marx e Nietzsche, vêem no surgimento de um novo tipo de homem a possibilidade para a formação de novos valores que permitam à humanidade lidar com o desenvolvimento técnico, social, e econômico e desafios trazidos pela modernidade.
Modernidade no século XX
O autor compara as visões sobre a modernidade encontradas nos pensadores do século XIX e nos pensadores do século XX. Para Berman, durante o século XIX a modernidade era vista de forma mais complexa, com tentativas de conciliar suas ambigüidades e contradições, com críticas e a busca de soluções e adaptações. Já no século XX o autor vê uma crescente tendência à simplificações e totalizações.
“Aí não há ambigüidades: ‘tradição’- todas as tradições da humanidade atiradas no mesmo saco - se iguala simplesmente a uma dócil escravidão e modernidade se iguala a liberdade(...)” (pg. 36)
O autor também discute a idealização da modernidade e do progresso tecnológico, usando o movimento futurista como exemplo. Berman também acena para a tendência dessa idealização tornar-se tão completa a ponto de desvalorizar, ou eliminar, da noção de modernidade, o elemento humano.
“Muitos pensadores do século XX passaram a ver as coisas deste modo: as massas pululantes, que nos pressionam no dia-a-dia e na vida do Estado, não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade como as nossas; não é absurdo, pois, que esses ‘homens-massa’ (ou ‘homens ocos’) não tenham apenas o direito de governar-se a si mesmos, mas também, através de sua massa majoritária, o poder de nos governar?” (pg. 40)
O autor chama essa postura, que postula a incapacidade das massas de se auto-gerir e defende o “estado de administração total”,de a “‘perspectiva neo-olímpica’ de Weber ampliada e distorcida”, referindo-se à afirmação de Max Weber de que o “todo poderoso cosmo da moderna ordem econômica(...) determina a vida dos indivíduos que nasceram dentro desse mecanismo(...) com uma força irresistível". (pg. 39) Nessa perspectiva pode-se ver a raiz dos movimentos totalitários do século XX.
Atitudes do Modernismo a partir dos anos 60
“Ausente”
O artista/pensador volta as costas para a sociedade e se volta para o “mundo dos objetos” contemplando idéias “puras”.
“Negativa”
Modernismo visto como uma “tradição de destruir a tradição”, torna-se uma “cultura de negação”.
“Positiva”
Busca a eliminação das fronteiras que dividem as diferentes atividades humanas, e tenta abarcar a “riqueza de coisas materiais e ideais” que o mundo oferece.
De acordo com o autor: “Todas essas visões e revisões da modernidade constituíram orientações ativas em relação à história, tentativas de conectar o conturbado presente com o passado e o futuro(...)” (pg.45)
O paradoxo da Modernidade
É central no texto de Berman a questão de como a modernidade, enquanto “turbilhão” de mudanças, idéias, inovações, enquanto crítica de si mesma (já que aqueles que a vivem buscam seus vários sentidos e formas de se adaptar a ela), parece não apenas incapaz de se definir, como de se estabilizar ou renovar, sendo, paradoxalmente, uma permanente efemeridade. Cita Octavio Paz, poeta mexicano que lamenta que a modernidade “(...) cortada do passado e tenha de ir continuamente saltando para a frente, num ritmo vertiginoso que não lhe permite deitar raízes, que a obriga a sobreviver de um dia para o outro: a modernidade se tornou incapaz de retornar a suas origens para, então, recuperar seus poderes de renovação” (pg. 47)
Berman conclui: “Pode acontecer então que voltar atrás seja uma maneira de seguir adiante(...) Esse ato de lembrar pode ajudar-nos a levar o modernismo de volta às suas raízes, para que ele possa nutrir-se e renovar-se, tornando-se apto a enfrentar as aventuras e perigos que estão por vir. Apropriar-se das modernidades de ontem pode ser, ao mesmo tempo, uma crítica às modernidades de hoje e um ato de fé nas modernidades-e nos homens e mulheres modernos - de amanhã e do dia depois de amanhã” (pg. 49)


terça-feira, 18 de março de 2008

"O último dos Justos"- André Schwarz-Bart

Um bom romace, fala sobre o anti-semitismo e a Segunda Guerra Mundial sob uma perspectiva que combina história e misticismo. O autor, André Scharz-Bart, um judeu franco-polônes, fez parte da Resistência Francesa em 43 e recebeu o Prêmio Goncourt de literatura em 1959 com esse livro. É meio difícil de encontrar, quem puder tente procurar na livraria "Casa da Cultura" em Botafogo(que também tem um sebo no segundo andar). Abaixo trechos da introdução de André Billy, da Academia de Goncourt:

"O Último dos Justos"

"A lenda dos Justos é pouco conhecida entre os próprios judeus, sobretudo entre os judeus do ocidente(...)De acordo com tal lenda, o mundo repousaria sobre trinta e seis Justos, os Lamed-waf, cuja sobrevivência impede a humanidade de aniquilar-se, seus corações tendo o misterioso, o terrível privilégio de abarcar todos os sofrimentos do mundo(...)ao longo de uma disputa entre judeus e nazistas, o avô Mardoqueu tem uma visão que lhe mostra um Justo no pequeno Ernie. Sentindo-se chamado, este se exercita no sofrimento queimando na chama a própria mão. Sente-se atormentado por diversas questões: os judeus não seriam homens como os outros? Por quê os alemães os odiavam tanto? Emocionantes, trágicos sobressaltos de consciência de um pobre menino que deseja entender o destino da sua raça e só obtém respostas decepcionantes, mas, seguindo os conselhos do avô, decide-se pela piedade(...)"