sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Blogs e o ensino de História

Não dá para negar que hoje em dia a internet já se tornou ferramenta comum do estudante, e, infelizmente, em alguns casos ocupa o lugar dos livros e bibliotecas. Todo mundo sabe do que eu estou falando: o aluno recebe um trabalho envolvendo pesquisa e qual é a primeira coisa que ele faz? Pensou certo quem disse "entrar no google" ou "wikipédia". Por um lado as vantagens são imensas, acesso a informações, mapas, obras de arte e várias outras coisas que os alunos só encontrariam pesquisando numa biblioteca pública, coisa que muitos alunos geralmente têm preguiça de fazer. Mas por outro lado isso é muito perigoso. Ou será que alguém acredita que tudo que está na internet é correto? A verdade é que se eu quiser escrever um disparate qualquer como "o Holocausto não existiu" ou "a raça tal é superior a raça tal" nada me impede, e nada impede qualquer criança ou jovem de ler essas atrocidades. A geração atual está crescendo com a internet, as crianças usam os computadores cada vez mais (e na maior parte das vezes sem supervisão dos pais, que acham mais fácil deixar a molecada na frente de uma tela brilhante, seja o computador ou a TV, do que realmente educar os próprios filhos)

É por isso que nós profissionais de educação temos que assumir nosso espaço no "mundo virtual"´; é fundamental que existam sites confiáveis com conteúdo acadêmico sério, e que os profissionais da área de educação acompanhem o desenvolvimento das novas mídias acessíveis aos alunos. Ninguém precisa ser um especialista em informática ou web-design para fazer isso. A solução pode ser um simples blog.

Um blog é simples de fazer, usar, acessar, e tem imensas possibilidades. Para uma discussão mais aprofundada estou colocando aqui o link para um artigo do Professor Dan Cohen, diretor do "Center for History and New Media", um instituto que trabalha justamente com a relação entre a historiografia e as novas formas de mídia. Agradecimentos ao Professor Ricardo Castro (UFRJ) pelo link (Blog do Ricardo : http://fch352.blogspot.com/)

Artigo: COHEN, Dan, "Professors, start your blogs":
http://www.dancohen.org/2006/08/21/professors-start-your-blogs/

sábado, 12 de julho de 2008

Prosseguindo...

Acabou o período e a disciplina já foi encerrada, mas o blog não...Então aqui estão alguns links interessantes sobre História contemporânea, só para dar prosseguimento aos trabalhos:

http://www.casahistoria.net/ - Seleção de sites só sobre História moderna e contemporânea

http://www.eyewitnesstohistory.com/ - seleção de textos oriundos de diários, cartas e outros documentos pessoais de gente famosa ou não que ilustram diversos eentos históricos

http://www.firstworldwar.com/ - Tudo sobre a Primeira Guerra Mundial.

http://www.greatwar.nl/ - Fotos da Primeira Guerra

http://pt.worldwar-two.net/ -Segunda Guerra Mundial em português

http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/2WW.htm -Tudo sobre a Segunda Guerra

http://www.fordham.edu/halsall/mod/modsbook.html - Referências sobre História moderna e contemporânea

http://www.haberarts.com/mytime2.htm#modern - Arte moderna

domingo, 15 de junho de 2008

Wiesel em Auschwitz



A título de ilustração para a resenha de "A Noite". Na foto ao lado podemos ver Elie Wiesel , aos 17 anos durante sua internação em Auschiwitz. Wiesel é o sétimo da esquerda para a direita na linha do meio.

Resenha- "A Noite"- Elie Wiesel

Resenha
WIESEL, Elie. “A Noite” Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

Livros de memórias e autobiografias que tocam no assunto do Holocausto judaico e o genocídio nazista têm sido uma espécie de fenômeno literário do pós-guerra, na medida em que uma enorme massa de leitores leigos são atraídos pela narrativa histórica graças ao apelo de dramas humanos que vão além do ordinariamente imaginável, e que ainda assim, presume-se, são reais. Isso explica não apenas a popularidade de livros como o diário de Anne Frank, como também a quantidade de falsificações, isto é, autobiografias e memórias forjadas por escritores que não viveram o Holocausto.(Alguns exemplos notáveis são “Misha” de Misha Defonseca e “Fragmentos” de Benjamin Wilkormirski).

“A noite” tem lugar de destaque nessa “literatura do holocausto”. Juntamente com o diário de Anne Frank e “É isto um homem?” de Primo Levi, “A Noite” de Elie Wiesel forma uma espécie de “cânon” em termos de literatura sobre o holocausto. Em comum os três livros têm o fato de terem sido escritos por vítimas dos campos de concentração (Wiesel e Levi sobreviventes, Frank morta em Auschwitz), o que por si só os torna peças únicas de literatura, e o fato de, tanto pelo estilo literário quanto pela honestidade das narrativas, nas quais os autores se expõem completamente a nossos olhos, com suas expectativas, dores e sentimentos. “A noite” ganha mais força se considerarmos que seu autor Elie Wiesel não apenas continua vivo, mas também atuante. Apesar de sua simpatia um tanto parcial pelo Estado de Israel que o levou a algumas decisões questionáveis ou polêmicas (como desculpar ataques israelenses a civis e apoiar a invasão do Iraque), Wiesel têm sido um dos maiores porta-vozes dos direitos humanos e vem denunciando diversos crimes contra a humanidade, discursando e escrevendo continuamente em veículos de grande circulação e mesmo na ONU.

“A noite” impressiona não apenas pelos dados citados acima, mas por sua força narrativa. É um livro curto, compacto, que diz tudo em poucas palavras, crua e brutalmente; tem o impacto de um soco no estômago.. Como o próprio autor afirma, não há palavras para descrever o holocausto (especialmente para quem o viveu diretamente), e Wiesel não perde tempo tentando encontrá-las. Seu livro não explica, justifica ou reflete. Apenas conta. Conta o que seu autor, a duras penas, sobreviveu para contar. Narrado num estilo fluido e quase oral onde a cronologia dos acontecimentos é menos importante que o tempo psicológico do narrador, “A noite” é um romance que lida não com a história, mas com um jovem arrastado pela história. O fio que norteia a narrativa são os sentimentos de Elie Wiesel, então com quinze anos, durante o período em que viveu, com seu pai, num campo de concentração.

“A noite” não tem o rebuscamento emocional a que os filmes de Hollywood nos acostumaram. De algum modo, hoje em dia, nós quase esperamos que dramas se desenrolem ao som de música orquestral e que seres humanos sejam heróis cheios de dignidade ou vítimas estóicas. “A noite”, no entanto é um drama real, e seu autor não faz a mínima questão de embelezar nada. O Holocausto foi feio, desumano, nulificou suas vítimas, e ao mesmo tempo foi banal, corriqueiro e nada heróico; é isso que Wiesel nos diz. As atrocidades desfilam diante dos olhos do narrador (e dos nossos) em sucessão sem que ninguém pense, ou sinta...Apenas acontecem. Tinha que ser assim para que milhões fossem eficientemente eliminados.”Fábrica da morte” não é uma figura de linguagem ao se falar do genocídio nazista, é uma constatação simples. Com o tempo nem mesmo as vítimas sentiam o horror da morte: o processo de sua total destruição às reduziu à nada antes mesmo de colocarem os pés numa câmara de gás.

Como as demais vítimas do Holocausto, Elie Wiesel se viu cair ao nível sobrevivência básica, à necessidade de viver um minuto mais, e ele próprio assume sua desumanização, e a descreve sem qualquer vergonha ou desculpa (afinal, que culpa tiveram as vítimas de qualquer genocídio perpetrado na história do mundo?). Sua mãe e irmã são as primeiras a morrer, na câmara de gás. Em nenhum momento ele as pranteia: deve sobreviver e ajudar o pai a sobreviver. Um resto de humanidade agarra-se à figura do pai, ao amor e ao respeito que ele inspira, e à piedade quando a saúde deste pai começa a declinar, no entanto um instinto de sobrevivência básico, primário, animal mina essa resistência da alma.

“Deus está morto” provavelmente, a melhor definição do que o genocídio significou histórica e humanamente. Enquanto Wiesel vê desmoronarem suas crenças em Deus, nos homens, em si mesmo, também o mundo ocidental viu, entre o regicídio que deu início à Primeira Guerra Mundial e as duas bombas atômicas que encerraram a Segunda Guerra, o fim de um mundo, de crenças e valores que até então pareciam inabaláveis. A destruição de vidas humana em massa, a totalização da guerra, a morte tecnizada e higienizada, foram o parto doloroso do que Eric Hobsbawm chama de “o breve século XX”, um processo cujas conseqüências sentimos ainda hoje.

Bibliografia
ARENDT, Hanna- “Eichmann em Jerusalém- Um relato sobre a banalidade do mal” São Paulo: Diagrama & Texto, 1983.
BAUMAN, Ziegmund- “Modernidade e Holocausto” Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
HOBSBAWM, Eric- “ A era dos extremos-o breve século XX”-São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Resenha "Feliz Natal" (Merry Christmas/Joyeux Noël)

Resenha:
“Feliz Natal”-(Joyeux Noël/ Merry Christmas”- (2005)
Ficha técnica: Direção: Christian Carion / Roteiro: Christian Carion / Fotografia: Walther Vanden Ende / Edição: Judith Rivière Kawa e Andréa Sedlácková / Produção:Phillipe Boeffard / Música: Phillipe Rombi / Elenco:Diane Kruger, Benno Fürmann, Guillaume Cannet, Gary Lewis, Daniel Brühl.

A chamada trégua de Natal de 1914 é, provavelmente um dos momentos mais conhecidos da Primeira Guerra mundial. A popularidade do evento atesta nossa eterna necessidade de, apesar da guerra, da violência, dos interesses sectários, existe algo inerente ao ser humano, a que vagamente damos os nome de “humanidade”, que o torna essencialmente bom, e que nos faz iguais apesar de tudo. É nessa crença que reside o encanto de “Feliz Natal”.

Criticado por vários especialistas por ser considerado excessivamente “otimista” e “bobo e vago como um belo cartão de Natal pedindo paz na terra”. Temos de admitir que isso não está muito longe da verdade. Visualmente “Feliz Natal” é mesmo um belo cartão de natal. Desde de figurinos e interiores sofisticados até exteriores nevados com trincheiras quase bucólicas povoadas por soldados bem vestidos e surpreendentemente limpos para quem está lutando numa guerra de trincheiras. Os corpos, ratos, amputações e latrinas estão lá, mas apenas mencionados de passagem; o trauma da vida na trincheira, com a falta de higiene, as doenças e as privações são uma nota de rodapé comparada ao enorme, e incrivelmente vago “horror da guerra”. Para completar o cenário temos uma trilha sonora sublime composta de música clássica, canções folclóricas e natalinas, um casal apaixonado, separado pela guerra, comandantes dignos e heróicos, e um padre bem intencionado. Sim, “bobo e otimista” pode parecer uma boa definição.

No entanto os críticos esquecem uma coisa fundamental, que jamais deve ser desconsiderada ao se falar de um filme: a intenção de seus produtores. “Feliz Natal” é um filme antiguerra. Parte do princípio, quase esquecido hoje, que por mais variantes que uma guerra envolva, religiosos, psicológicos, políticos e econômicos e por mais que uma guerra possa parecer necessária ou inevitável, uma guerra é, sempre e sem exceções, ruim. Parece uma idéia demasiado simples, e o é. “Feliz Natal” não faz questão nenhuma de dizer o contrário. Por isso é vago. Por que a guerra é vaga, em suas motivações e conseqüências: ao iniciar uma guerra, governos consideram motivações não por sua justiça ou veracidade, não sabem como será seu desfecho, quantos morrerão, quantos ficarão permanentemente incapacitados, quantos civis serão mortos, feridos ou violentados, e a verdade é que esses dados jamais entram na conta. Aí está o horror da guerra visto em “Feliz Natal”; não é preciso ver o sangue e a morte para saber que a guerra é desumana...já deveríamos saber disso há muito tempo.

A Primeira Guerra mundial marcou o início de um processo maior de desumanização daquilo que já era desumano. A guerra se tornou total. Antes soldados se matavam entre si, agora, instituições e pessoas fora do conflito sofriam diretamente, a tecnologia permitiu que armas matassem mais e com mais eficiência, aviões, navios, tanques e gases venenosos foram usados largamente...Tudo isso envolvendo potências políticas que se batiam por territórios e zonas de influência sobre as quais seus povos (e soldados) nada sabiam ou pelas quais pouco se interessavam. Foi a essência da guerra moderna.

A trégua do Natal de 1914 pode ser considerada uma pequena resistência. Um curto momento no qual esses homens puderam recusar a lógica da guerra moderna e agarrar-se aos valores tradicionais que começavam a desmoronar. Valores como a religião, o respeito aos mortos, e à cultura tradicional. A Guerra pode ter divido a Europa, mas o homem europeu tinha um arcabouço cultural que era comum a todos. É essa identidade européia, que perpassa a narrativa do filme, unindo as personagens. É uma identidade idealizada, claro; um judeu não seria considerado parte dela, por exemplo, e no entanto uma das personagens centrais é um militar judeu(a participação dos judeus na Primeira Guerra foi um dado histórico muito importante, ainda que desacreditada posteriormente pelo IIIº Reich), a escolha da ópera (uma arte aristocrática) como laço musical entre os soldados é outro dado a ser notado, e a presença de uma personagem feminina (devemos salientar que a imagem da mulher é um dos dados fundamentais da construção do nacionalismo, seja sob a forma da personificação da pátria, seja como a figura da esposa e da mãe, ou representação da honra e virtudes nacionais) que dá contornos humanizados e sentimentais a essa identidade (é interessante notar que essa única personagem feminina, uma cantora, durante uma longa seqüência interpreta a “Ave Maria”, veríamos aqui uma possível referência à Virgem Maria, na cultura ocidental o símbolo máximo da mulheres que perderam seus filhos- ou maridos, netos, irmãos etc -para a violência sem sentido?). Mas mesmo essa idealização serve a um propósito, sempre o mesmo, apelar para uma identidade comum, humana, à existência de uma humanidade básica em todos nós. Vista desse modo a “identidade européia” mostrada pelo filme pode ser considerada uma simples metáfora para uma “identidade humana” maior, e a guerra de “Feliz Natal” pode ser, no fim das contas, apenas um símbolo para todas as guerras da modernidade.

Resenha- "Homo Sapiens 1900"

Resenha:
“Homo Sapiens 1900” - (1998)
Ficha técnica:
Direção: Peter Cohen / Roteiro: Peter Cohen / Fotografia: Peter Östlund; Mats Lund / Edição: Peter Cohen / Produção: Peter Cohen / Música: Matty Bye / Som: Lars Heleander / Elenco: Jan Holmquist; Stephen Rappaport.

Eugenia. A palavra que hoje soa maldita sob o peso de sua vinculação com políticas de limpeza étnica, racismo, massacres, fascismo e tantas outras atrocidades que se tornaram o signo comum da modernidade, já foi um termo corriqueiro. Suas práticas já foram não apenas utilizadas, mas eram lugares comuns. Pode ser difícil para nós, com nossa notória dificuldade de lembrar até mesmo do passado imediato, relacionar a idéia de que alguns seres humanos são inerentemente “maus”, “impuros” ou “indesejáveis”; que a genética deva decidir quem vive e quem morre, quem se reproduz ou não e como. A idéia choca nossa sensibilidade pós-moderna. No entanto, não muito tempo atrás uma campanha de limpeza étnica na Iugoslávia se desenrolou sob os olhares do mundo; enquanto eu escrevo essa resenha um novo genocídio acontece em Darfur e casais planejam filhos com base na seleção do melhor material genético; a engenharia genética é uma realidade em curso...

Em “Homo Sapiens 1900”, o diretor Peter Cohen explora o início desse processo, durante a passagem do século XIX para o XX, com ênfase especial nos casos da Alemanha(por motivos bastante óbvios) e na Suécia(caso mais próximo do diretor em termos de acesso à fontes e também um país que fez uso da Eugenia até os anos 70). Cohen, filho de um judeu alemão que fugiu de Berlim em 1938, poderia ter escolhido uma maneira mais dramática para tratar do assunto(sua própria origem o permitiria), mas, para nossa sorte, escolheu o caminho oposto. “Homo Sapiens” impressiona pela sobriedade. Para esse trabalho o diretor selecionou imagens de arquivo tão variadas quanto interessante e únicas; muitas são inéditas. As imagens se sucedem sem qualquer efeito, servindo à narração(voice-over) que forma a linha mestra do documentário. Impressionam não apenas as imagens em si (por sua raridade e valor documental), mas a seleção. Além das habituais imagens de medições corporais e campanhas em favor da eugenia que esperaríamos ver num documentário sobre o tema, há também imagens tão diferentes entre si e ainda assim tão pertinentes ao tema: feiras interioranas para escolher famílias com perfis genéticos “ideais”, imagens do início do movimento nudista, cenas de filmes...Enfim uma seleção que atesta o quanto a eugenia era parte fundamental do pensamento da época em todos os seus níveis.

Também impressiona a apresentação da imagem. Como já dissemos a palavra-chave para “Homo Sapiens” é sobriedade. Uma sobriedade quase árida. A proporção de stills (cenas paradas e fotos) em comparação com imagens em movimento é esmagadoramente maior. O filme é perturbadoramente silencioso. A narração é monocórdia, música de fundo lúgubre pontua as cenas e marca a transição entre elas: notas morosas de um piano com uma tela negra, o recurso mais dramático num filme nu de recursos técnicos sofisticados ou impactantes.

Claro que essa escolha tem seu lado negativo. “Homo Sapiens 1900”, analisado enquanto trabalho áudio-visual tem um tom quase deprimente e por vezes beira o monótono. E para aqueles que esperam os arroubos apaixonados associados com filmes que tratam do racismo ou do Nazismo, isso pode ser uma franca decepção. Deve-se acrescentar também que, enquanto discorre longamente sobre as origens da eugenia enquanto ciência e projeto social, o filme pouco toca nas conseqüências humanas e sociais dessas políticas; alguns poderiam considerá-lo um filme “frio”. Mas é importante ressaltar que “Homo sapiens” faz parte de um corpus de trabalhos que se completam. Junto com “Arquitetura da Destruição” e “The Story of Chaim Rumkowski and the Jews of Lodz” (ainda sem título em Português) “Homo Sapiens 1900” constitui uma análise que se debruça sobre o Nazismo e o Holocausto, e numa escala maior sobre o racismo, a intolerância e a perversão das ideologias modernas que desemboca no racismo científico, na banalização da vida, na industrialização da morte. Visto sob essa luz, o impacto deste filme introspectivo se multiplica.

Polanyi (Fichamento)

POLANYI, Karl - “O nascimento do credo liberal” in “A grande Transformação-As origens da nossa época” Rio de Janeiro: Campus, 1980

“O liberalismo econômico foi o princípio organizador de uma sociedade engajada na criação de um sistema de mercado. Nascido como mera propensão em favor de métodos não-burocráticos, ele evoluiu para uma fé verdadeira na salvação secular do homem através de um mercado auto-regulável” (Pg.141)
“Foi somente nos anos 1820 que ele passou a representar os três dogmas clássicos: o trabalho deveria encontrar seu preço no mercado, a criação do dinheiro deveria sujeitar-se a um mecanismo automático, os bens deveriam ser livres para fluir de país a país, sem empecilhos ou privilégios. Em resumo, um mercado de trabalho, padrão-ouro e livre comércio” (Idem)
“Não foi senão nos anos 1830 que o liberalismo econômico explodiu como uma cruzada apaixonante e o laissez-faire se tornou um credo militante. A classe manufatureira pressionava pela emenda da Poor Law, uma vez que esta impedia a criação de uma classe trabalhadora industrial que só assim poderia conseguir uma renda própria. Tornava-se aparente, agora, a magnitude do empreendimento que significava a criação de um mercado livre, bem como a extensão da miséria a ser afligida às vítimas do progresso”(Pg. 142)
“As fontes utópicas do laissez-faire não podem ser inteiramente compreendidas enquanto examinadas separadamente. Os três pilares- mercado de trabalho competitivo, padrão-ouro automático e comércio internacional livre- formavam um todo. Eram inúteis, ou talvez pior, os sacrifícios exigidos para atingir qualquer um deles a menos que os dois outros fossem igualmente garantidos. Era tudo ou nada.” (Pg.144)
“Não havia nada natural em relação ao laissez-faire; os mercados livres jamais poderiam funcionar deixando apenas que as coisas seguissem seu caminho. Assim como as manufaturas de algodão – a indústria mais importante do livre comércio - foram criadas com a ajuda de tarifas protetoras, de exportações subvencionadas e de subsídios indiretos dos salários, o próprio laissez-faire foi imposto pelo estado. Os anos trinta e quarenta presenciaram não apenas uma explosão legislativa que repelia as regulamentações restritivas, mas também um aumento enorme das funções administrativas do estado, dotado agora de uma burocracia central capaz de executar as tarefas estabelecidas pelos adeptos do liberalismo” (Idem)
“O caminho para o mercado livre estava aberto e se mantinha aberto através do incremento de um intervencionismo contínuo, controlado e organizado de forma centralizada. (...) Todos esses baluartes da interferência governamental, no entanto, foram criados com a finalidade de organizar uma simples liberdade – a da terra, do trabalho e da administração municipal. Assim como, contrariando as expectativas, a invenção da maquinaria que economizaria trabalho não diminuíra mas, na verdade, aumentara a utilização do trabalho humano, a introdução dos mercados livres, longe de abolir a necessidade de controle, regulamentação e intervenção, incrementou enormemente o seu alcance” (Pgs 145-146)
“Autores liberais, como Spencer e Summer, Mises e Lippmann, nos oferecem um relato desse duplo movimento bastante similar ao nosso, mas lhe dão uma interpretação inteiramente diferente. Enquanto, em nossa opinião, o conceito de um mercado auto-regulável era utópico e seu progresso foi obstruído pela autoproteção realista da sociedade, na perspectiva deles todo o protecionismo foi um erro resultante da impaciência, ambição e estreiteza de visão, e sem elas o mercado teria resolvido suas dificuldades.” (Pg.146)
“Este é o mito da conspiração antiliberal que de uma forma ou outra, é comum à todas as interpretações liberais dos acontecimentos dos anos 1870 e 1880. A forma mais comum é atribuir ao nascimento do nacionalismo e do socialismo o crédito de agente principal nessa mudança de cenário; as associações e monopólios de fabricantes, os interesses agrários e os sinicatos profissionais são os vilões da peça.”(Pg.149)
“Embora seja verdade que os anos 1870 e 1880 viram o fim do liberalismo ortodoxo e que todos os problemas cruciais do presente têm sua raiz nesse período, seria incorreto dizer que a mudança para um protecionismo nacional fosse devida a qualquer outra causa além da manifestação das fraquezas e perigo inerentes a um sistema de mercado anti-regulável.”(Pg. 150)
“Para uma mente imparcial, essas medidas comprovam a natureza puramente prática, pragmática do contramovimento ‘coletivista’. A maioria daqueles que punham em prática essas medidas eram partidários convictos do laissez-faire e certamente ao achavam que se consentimento para a organização de um corpo de bombeiros em Londres implicasse num protesto contra os princípios do liberalismo econômico. Pelo contrário, os patrocinadores desses atos legislativos eram, em regra, oponentes intransigentes do socialismo ou de qualquer outra forma de coletivismo” (Idem)
“Teoricamente o laissez-faire ou a liberdade de contrato implicava na liberdade dos trabalhadores de recusar-se a trabalhar, individual ou coletivamente, se assim decidissem; implicava também na liberdade dos homens de negócios de ajustar os preços de venda independentemente da vontade dos consumidores. Na prática, porém, tal liberdade entrava em conflito com a instituição de um mercado auto-regulável e, em tal conflito concedi-se precedência, invariavelmente, ao mercado auto-regulável” (Pg.152)
“Finalmente, o comportamento dos próprios liberais provou que a manutenção da liberdade do comércio – em nossos termos, de um mercado auto-regulável - longe de excluir a intervenção, na verdade exigia tal ação, e que os próprios liberais apelaram sistematicamente para a atuação compulsória do estado, como no caso da lei dos sindicatos profissionais e das leis antitrustes.” (Pg. 154)

domingo, 8 de junho de 2008

Superinteressante-Edição especial- 1ªGuerra Mundial

Acaba de chegar nas bancas um número especial da revista Superinteressante sobre a Primeira Guerra "Primeira Guerra Mundial 90 anos- O conflito que desenhou o mundo em que vivemos". Texto legal com boas fontes (até Hobsbawm é citado), gráficos, fotos, análise de armamentos e tecnologia, a relação com a Segunda Guerra, além de curiosidades como os últimos combatentes ainda vivos, a propaganda e a participação brasileira. Também tem boas reportagens sobre a influência da guerra no Oriente Médio, a Revolução Russa e o Genocídio Armênio. Pelo mesmo preço da revista regular (R$9,95)

Vale a pena.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Imagens da Primeira Guerra

O site "Heritage of the Great War" tem um acervo muito vasto de fotografias divididas por temas. Há sessões com raridades, fotos coloridas (uma técnica rudimentar), fotos de crianças envolvidas no conflito...enfim tudo, até uma seção comparando a trajetória de dois soldados que se tornaram célebres após a guerra: Hitler e Erich Maria Remarque.
Um aviso meio idiota, já que são fotos de guerra, mas por desencargo de consciência vamos lá: muitas fotos são bem desagradáveis(violentas, nojentas, chocantes... enfim, depende da sensibilidade do espectador...), mas as piores estão numa seção separada só para elas, então não há perigo dos mais sensíveis "tropeçarem" nelas.

Resenha- links para auxílio!

Para quem ainda está redigindo a resenha do livro aqui vão alguns links interessantes (em inglês, portugues e italiano) sobre algumas das obras e seus autores

"A Noite" - Elie Wiesel
http://www.pbs.org/eliewiesel/
http://www.jewsweek.com/bin/en.jsp?enPage=BlankPage&enDisplay=view&enDispWhat=object&enDispWho=Article^l223&enZone=Articles&enVersion=0&
http://www.americanrhetoric.com/speeches/ewieselperilsofindifference.html

"Coração das trevas"- Joseph Conrad
http://www.burburinho.com/20020228.html
http://biblioteca.folha.com.br/1/06/2002060801.html
http://www-english.tamu.edu/pers/fac/muana/introafricanalitarchive.htm

"É isto um Homem?"Primo Levi
http://www.scielo.br/pdf/nec/n73/a13n73.pdf
http://coralx.ufsm.br/grpesqla/revista/num09/art_06.php
http://www.themodernword.com/scriptorium/levi.html
http://www.nuovorinascimento.org/n-rinasc/testi/pdf/levi/levi.pdf

Matadouro 5- Kurt Vonnegut
http://www.vonnegut.com/

"Nada de novo no fronte" Erich Maria Remarque
http://remarque.chkebelski.de/index_e.html
http://www.bwdd.com/allquiet/
http://www.cliffsnotes.com/WileyCDA/LitNote/id-6.html

Espero que ajudem!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Primeira Guerra- Site

Tropecei nesse site pesquisando a Primeira Guerra Mundial. Contém uma "enciclopédia", acervo fotográfico e de mídia(pôsteres, audio, vídeo), biografias, informações sobre a tecnologia bélica e campos de batalha, mapas e seções com temas especiais como a trégua no natal de 1914,a batalha de Verdun, canções populares relacionadas à guerra e muitas(mas muitas mesmo!) outras coisas interessantes. Tudo em inglês, mas mesmo quem não sabe a língua deve visitar:

http://www.firstworldwar.com/index.htm
Aproveitem!

terça-feira, 27 de maio de 2008

O soldado alemão "ideal"

Agora sim, imagem dessa semana!



Continuando no tema. Acho que pouca gente sã hoje em dia discorda que a eugenia é uma falácia científica e que limpeza racial é um absurdo disparatado. Aliás esse conjunto de idéias é tão grotescamente infundado que chegou a gerar situações que poderiam quase beirar o engraçado. É o caso da foto abaixo. Essa fotografia de um soldado alemão foi publicada pelo jornal Berliner Tageblatt com a legenda "O soldado alemão ideal". Posteriormente a fotografia foi usada em diversos cartazes de campanha para recrutamento.



Só que o rapaz estava longe de ser o "ideal" nazista. Seu nome era Werner Goldberg e ele era um mischiling ("mestiço"), seu pai era judeu e sua mãe protestante. Werner cresceu sem saber disso, pois o próprio pai decidiu criá-lo como protestante. Só depois de adulto descobriu a identidade judaica do pai. Foi expulso do exército em 1940 devido a sua origem racial. Werner conseguiu proteger o pai de ser mandado para Auschwitz usando seus contatos no exército.

O pai de Werner foi o único membro da família Goldberg a sobreviver à guerra.

Imagens da semana- Recuperando o atraso!

Pois é...duas semanas sem imagens novas...Não foi má vontade, juro!

Bem, como fiquei muito tempo sem postar, lá vão duas imagens para compensar. Lembrando da discussão sobre Eugenia que tivemos em sala e do filme "Homo sapiens 1900", duas imagens relacionadas ao "período áureo" da eugenia (se é que dá para falar uma coisa dessas...)



Primeiro o logo do segundo congresso de Eugenia, ocorrido em setembro de 1921, no Museu de História Natural de Nova Iorque. O cartaz diz:



"A eugenia é a direção propria da evolução humana"






"Como uma árvore a eugenia tira seus materiais de várias fontes e os organiza numa entidade harmoniosa."





E um cartaz de propaganda Nazista de 1936.Nele vemos uma mulher que segura um bebê e um homem com um escudo onde vemos o título da lei de esterilização compulsória de 1933. Em volta deles estão as bandeiras de outros países que, como a Alemanha nazista praticavam a eugenia corriqueiramente. Lê:
"Nós não estamos sozinhos"




Pois é, ao contrário do que gostamos ou nos sentimos confortáveis em pensar, as políticas Nazistas não eram assim tão absurdas no contexto da época...

DE DECCA, Eric (Fichamento)

DE DECCA, Edgar. “O colonialismo como glória do império” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão et alli. O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. volume I, pp. 151 a 181

Expansão
De Decca define a necessidade de expansão, com ênfase na necessidade de mercados e matérias-primas, nos seguintes termos:
“A principal característica desse processo desenfreado por ampliação de espaços era a de que a expansão dos Estados europeus tinha sido motivada por uma necessidade irrefreável de ampliação de mercados das economias competitivas do capitalismo industrial.(...) Se as fronteiras nacionais tinham sido até então a base e sustentação do edifício político do Estado, as forças avassaladoras do capitalismo industrial pressionavam para que essas fronteiras fossem rompidas e expandidas a uma dimensão sem precedentes” (pg. 155)
“Tudo o que pudesse representar abertura de novos mercados e domínio de fontes estratégicas de matérias-primas (ferro, cobre, petróleo, manganês, jazidas de diamantes etc.) passou a ser prioritário para as burguesias desses estados europeus expansionistas.” (Idem)

“Imperialismo” enquanto conceito
O autor ressalta que “Imperialismo” não é, como seria fácil imaginar a “formação de um império” já que para formar um império “seria necessário que a nação promotora desse império estendesse suas leis e suas instituições aos territórios anexados e tornasse os povos dessas regiões tão iguais em direitos quanto aqueles que vivem no território da nação mãe. Entretanto aconteceu o contrário dessa situação” (pg. 157) Ele define o imperialismo como “uma política deliberada dos estados europeus de anexação de povos e territórios com vistas à expansão dos mercados capitalistas.” (Idem) Uma política que só pôde se consolidar graças ao domínio militar e a um aparato administrativo específico.

O Imperialismo e o homem comum (europeu)
A era industrial e o Imperialismo definiram grandes mudanças não apenas nos territórios conquistados, mas também no interior dos estados conquistadores. A vida comum sofreu grandes mudanças em termos sociais, comportamentais, econômicos, mudanças que influenciaram a cultura, o consumo, os valores etc. Algumas das mais fundamentais foram o crescimento e modernização das cidades e o advento do consumo de massa. Um outro dado importante como a tecnologia não apenas incrementou a produção das fábricas, mas também a distribuição dos produtos por meio do transporte. O transporte, aliás, junto com as comunicações, também facilitaria o deslocamento do próprio homem para além de seus lugares de origem.

Literatura
O autor usa a literatura como um acervo “rico em sugestões” acerca da mente do homem do período imperialista. Enquanto alguns autores escrevem obras legitimadoras do domínio europeu no mundo, outros se posicionam criticamente, É sobre esses últimos que o autor discorre mais longamente. Em especial De Decca considera “O coração das trevas” de Joseph Conrad, como “romance síntese” da época. Em suas palavras:
“Nesse romance, a grande cidade européia é metaforizada nas selvas africanas, onde o homem civilizado, livre de todas as convenções, imbuído dos ideais de progresso, expande ilimitadamente o seu poder, levando tudo o que o rodeia à destruição e à barbárie” (pg. 167)

O socialismo
O socialismo, no espírito geral de expansão, também se pretendia universal, ainda que suas zonas de atuação na prática fossem a Europa e, em menor proporção, os EUA. Ainda que várias tendências formassem o movimento socialista a mais influente era a corrente marxista. De Decca dá ênfase espacial ao que ele define como “disputa” entre os “partidários da revolução e os do reformismo”. Ele acentua o fato de que, com a difusão das idéias socialistas, propagou-se uma idéia de progresso, de que a revolução socialista seria o próximo passo lógico na evolução humana. Bernstein coloca essa visão em disputa, ao afirmar que “ não era nada viável uma revolução nos países industrializados, acreditava que o capitalismo teria muito fôlego para agüentar crises periódicas e que o movimento socialista deveria se preparar para lutar por reformas políticas e sociais, através de alianças com outros partidos políticos” (pg. 172) De Decca afirma ainda, sobre a expansão do socialismo e sua relação com o imperialismo: “(...) o imperialismo teve que se debater com uma poderosa força política de contestação que ele próprio ajudou a propagar(...)” (pg 174)

A Belle -Époque
De Decca afirma:
“Num período onde as ambições foram imensas e os sonhos também grandiosos, do domínio imperialista ao paraíso socialista, não seria absurdo dizer que todos os outros campos da atividade humana foram também atingidos por essa espansão ilimitaa dos desejos(...)Havia a nítida sensação de que tudo estava em expansão, e as certezas fixas e mecânicas, que haviam garantido o pensamento europeu, principalmente o filosófico e o científico, durante os últimos séculos estavam em vias de desaparecer” (pg. 176)
A ciência e os novos conhecimentos, as mudanças que os acompanham, sua aceitação como emblema do progresso ou sua rejeição são fundamentais para compreender a sociedade da Belle-Époque. O progresso científico gera tanto os meios de transporte e a difusão da cultura, como para a criação da Eugenia, do racismo científico, a fotografia revoluciona a idéia de informação, as mudanças se precipitam umas sobre as outras. “Não seria absurdo afirmar que a valsa, música símbolo de Viena, tinha se transformado na composição de Ravel em uma ‘desvairada dança macabra’ (...)”

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Intenções Imperialistas sobre a China

A charge abaixo foi publicada no fim da década de 1890. Mostra a China (representada por uma torta...ou algo parecido com uma torta) sendo dividida pelas caricaturas da Rainha Vitória, do Kaiser William II da Alemanha (os dois aparecem em confronto mais direto), um samurai, que representa o Japão, e o Czar Nicolau II estudando seu possível pedaço da "torta"(Russos e japoneses disputaram a região da Manchúria durante a Guerra Russo-Japonesa, com vitória japonesa.Mas imperialismo japonês só avançaria de fato sobre a China durante a Segunda Guerra, já as pretensões expansionistas da Rússia czarista só foram retomadas pela União Soviética, e de maneira bem diversa.) e Marianne, a representação clássica da república francesa observando diplomaticamente. Tudo isso enquanto um oficial palaciano manchu (a última dinastia imperial da China tinha origem na Manchúria) se desespera sem poder evitar a partilha.
Embora a China tenha se mantido oficialmente como império independente, a sua divisão em áreas de influência ou concessões foi, como o cartum mostra de maneira bem óbvia, apenas mais um dos muitos processos imperialistas do fim do século XIX.



domingo, 4 de maio de 2008

M. Butterfly

M. Butterfly é um filme de David Cronenberg baseado na peça de mesmo nome de David Hwang. A peça é uma crítica dos esterótipos orientais e se baseia na ópera "Madame Butterfly". Para quem não sabe "Madame Butterfly" é um dos triunfos da visão orientalista do mundo. A personagem título é o melhor exemplo do estereótipo da mulher oriental submissa e disposta a acatar todos os desejo sexuais de um homem branco cultural e racialmente superior. Na ópera, Madame Butterfly é uma gueixa que se apaixona por um capitão da marinha americana; eles se casam (numa cerimônia falsa) mas ele a abandona, grávida. Butterfly acredita piamente em seu retorno e chega a recusar o pedido de casamento de um importante nobre japonês, genuinamente apaixonado por ela. Anos depois o americano retorna com sua esposa legítima (logicamente uma bela e loura norte-americana) e Butterfly, logo depois de suplicar à outra mulher que crie seu filho nos EUA, se suicida.
A peça de David Hwang toma a estória de Madame Butterfly e a subverte, misturando-a com um caso real de espionagem ocorrido durante a Guerra Fria(o caso de Bernard Boursicot). O personagem principal, René Gallimard, é um diplomata Francês na China. Ele se apaixona por uma cantora de ópera, Song Liling. Para Gallimard Liling é uma espécie de encarnação de Madame Butterfly: submissa, delicada, obediente. Mal sabe ele que ela é na verdade uma espiã do governo chinês que só está usando o relacionamento dos dois para conseguir informações. E Song Liling esconde um segredo ainda maior que esse(que eu não vou dizer para não estragar caso alguém queira assitir o filme). Fica a questão: Gallimard foi realmente enganado, ou seus preconceitos em relação ao "Oriente" fizeram com que enganasse a si mesmo?
Num dos melhores momentos do filme, Liling propõe o seguinte exercício mental a Gallimard:
"Imagine uma loura e linda líder de torcida que se apaixona por um chinês baixinho, dono de uma tinturaria. Ele a abandona e ela espera por ele. Ela recusa até a proposta de casamento de um Kennedy. Quando fica claro que o chinês não a quer mais ela se mata. Você certamente acharia essa mulher uma perfeita idiota. Mas como é uma oriental que se mata por um branco, você acha emocionante."
É um filme relativamente fácil de encontrar e já foi até exibido na Tv (pela Globo se não me engano). Tem uma fotografia belissima e além da discussão sobre o orientalismo também faz um bom retrato da China durante a Revolução Cultural, sem contar o atrativo extra de ser um ótimo filme de espionagem :)
Para mais informações:

http://en.wikipedia.org/wiki/M._Buttefly

http://www.imdb.com/title/tt0107468/

http://en.wikipedia.org/wiki/Bernard_Boursicot

domingo, 27 de abril de 2008

Tudo como dantes...

O cartaz aí embaixo, do partido esquerdista sueco Vänsterpartiet é de 2002, mas a lógica básica se aplica muito bem ao período colonialista. Bem, a imagem fala por si (e nem é preciso saber sueco). Em tempo: daqui em diante vou tentar colocar uma imagem interessante por semana (daí o marcador "Imagem da semana" ), preguiçosa que eu sou não coloquei nenhuma semana passada, por que aproveitar o feriadão estava no topo da lista de prioridades, mas a partir de agora vou tentar postar as imagens pontualmente(ou quase).



"Pós-Guerra"- Tony Judt

Geralmente quando a gente procura livros sobre história contemporânea nas livrarias encontra um mar de livros sobre a Segunda Guerra, outros trocentos sobre a Primeira e muitos sobre eventos específicos que marcaram época. É um pouco mais difícil encontrar livros que falem de um modo geral sobre o período posterior à Segunda Guerra. Por isso me chamou a atenção a seção "Livros" da revista Veja dessa semana (acho que ando lendo Veja demais ultimamente :P ). O destaque do artigo de Ronaldo Gama é "Pós-Guerra- Uma história da Europa desde 1945". O título dispensa maiores explicações, mas mesmo assim vamos lá: o enfoque da obra é a Europa desde o período de reconstrução até a dinâmica atual da União Européia. Ou seja para quem quer saber sobre a doutrina Marshall, a desintegração da União Soviética (com ênfase na figura de Gorbachev) e como o imperialismo deu lugar para uma nova configuração político-econômica diversa que "tenta conciliar o poder do estado(sic) e a liberdade econômica numa alternativa ao liberalismo mais ortodoxo do 'modelo americano' ". Parece interessante, pena que, como a maioria dos mega livros de mais de 800 páginas o preço é salgado...

Para ler um trecho do primeiro capítulo:

http://veja.abril.com.br/estacao_veja_2007/livros.shtml

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Propaganda Colonialista

Outro dia estava fazendo uma pesquisa e topei com essa imagem. É um cartaz de propaganda e apologia das ações do governo norte-americano em Cuba, após a Guerra hispano americana . Ele diz: "A bandeira americana não foi plantada em solo estrangeiro para adquirir mais terras, mas pelo bem da humanidade". Ideologia do "destino manifesto", colonialismo, Doutrina Monroe, etc...tudo numa imagem só.



Tamanho original:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/8/8b/Promises.JPG

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Triologia "A Espada de Honra"- Evelyn Waugh

Para quem quer ler um romance sobre a Segunda Guerra Mundial e tem fôlego para uma triologia. Editado pela Nova Fronteira, "A espada de honra", de Evelyn Waugh narra a trajetória de um soldado britânico, desde as dificuldades enfrentadas no alistamento até um desfecho classicificado pelo colunista da revista Veja, Nelson, Ascher como "ambíguo". A triologia é composta pelos livros "Homens em armas", "Oficiais e gentlemen" e rendição incondicional". O autor, Waugh, nascido em 1903, também lutou na segunda guerra e foi um popular crítico da modernidade. O personagem principal da triologia é quase um alter-ego seu. Abaixo um trecho da matéria que saiu na seção "Livros" da revista Veja da semana passada sobre a triologia de Waugh:

"Guy de Crouchback, nascido em 29 de outubro de 1903, vive sozinho com a criadagem no castelo adquirido pelo avô na costa italiana.(...)Quando a conflagração se anuncia, ele, não somente por patriotismo, para cumprir o dever de classe ou dar sentido àvida, mas para expressar igualmente o desdém que sente pela modernidade materializada na Alemanha nazista e na Rússia comunista, regressa a seu país prestes a entrar em guerra."

Para ler trechos dos três livros:

HOBSBWAM, Eric (Fichamento)-Capítulo II

HOBSBAWM, Eric. Uma economia mudando de marcha in “A era dos impérios”. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.

Nesse capítulo o autor explora as transformações ocorridas na economia mundial, européia em particular, durante o período que vais da crise dos anos de 1870 e a Primeira Guerra Mundial.

Parte 1
Protecionismo e Concentração Econômica

Entre as características do período pós-1870 encontra-se o aumento do protecionismo. Com o aumento vertiginoso da industrialização, produção e comércio, verifica-se uma queda nos preços de diversos produtos, tanto industriais quanto agrícolas. A queda dos preços leva não apenas a um aumento do poder de compra do homem comum como a uma queda nos lucros. No caso do campo o efeito da deflação foi especialmente sentido no campo, levando à formação de cooperativas e ao aumento da emigração. Segundo Hobsbawn, “a grande depressão fechou a longa era do liberalismo econômico”. A fim de evitar a queda dos preços, tomaram-se medidas protecionistas na maior parte dos países industrializados. Verifica-se assim um maior controle do mercado, além de tentativas de eliminar a concorrência estrangeira.
Administração científica/ Taylorismo
A Depressão também gerou a chamada “administração científica” proposta por F.W. Taylor. Esse método de organização tinha por objetivo o incremento dos lucros. Seus principais métodos:
· Isolar cada operário de seu grupo de trabalho, transferindo o controle do processo de trabalho a agentes administrativos.
· Divisão sistemática de cada processo produtivo em unidades cronometradas
· Sistema de pagamento por produção a fim de incentivar o operário a produzir mais.
Imperialismo
Além do protecionismo e mudanças na administração das fábricas, o imperialismo também foi uma saída possível para a queda dos lucros. O autor aponta a coincidência entre a depressão e a fase mais dinâmica da divisão colonial. Segundo Hobsbawn “(...) a pressão do capital à procura de investimentos mais lucrativos, bem como a da produção à procura de mercados contribuíram para as políticas expansionistas-inclusive a conquista colonial.”
Parte 2
Depressão e “boom” econômico

Teoria de Schumpeter – “associa a etapa ‘descendente’ ao esgotamento do lucro potencial de uma série de ‘inovações econômicas e o novo movimento ascendente a um novo conjunto de inovações percebidas basicamente -mas não só - como tecnológicas” (pg. 75)
Teoria de Kondratiev – Relação entre o setor indutrial e a produção agrícola mundial. O primeiro se expande através de uma contínua revolução da produção; a segunda cresce devido à abertura de novas zonas geográficas de produção. > Desaceleração da produção agrícola > “termos de troca” se tornam mais favoráveis à agricultura e menos à indústria, o que explicaria a queda de preços em 1873-1896 e a alta daí até 1914.
“O que tornou a economia mundial tão dinâmica?”
“(...)a chave do problema está claramente na faixa central de países industrializados e em vias de industrialização(...)pois eles agiam como o motor do crescimento global, a um tempo como produtores e como mercados” (pg. 77)
Parte 3
Síntese da economia mundial na Era do Império
· Economia de base geográfica muito mais ampla que anteriormente. Maior industrialização e crescimento do mercado.
· Pluralismo crescente da economia mundial.
· Revolução tecnológica. Atualização da primeira revolução industrial; aperfeiçoamento da tecnologia a vapor. Eletricidade, química, motores de combustãoe outras indústrias revolucionárias se tornam mais importantes.
· Transformação na empresa capitalista: concentração de capital, aumento da escala de produção, retraimento do mercado de livre concorrência. Tentativas sistemáticas de racionalizar a produção e a administração das empresas por meio de “métodos científicos”
· Transformação do mercado: aumento da população, da urbanização e da renda real. Formação de um mercado de massa, não mais restrito às necessidades básicas como roupas e comida, que passa a dominar as indústrias de bens de consumo. Desenvolvimento de novas tecnologias e o imperialismo concorrem para a produção de novos produtos e serviços. Criação dos meios de comunicação em massa.
· Crescimento do setor terciário.
· Convergência de política e economia: aumenta o papel do governo e do setor público. Democratização da política leva à ação política em defesa dos interesses de certos grupos de eleitores. Fusão da rivalidade política entre Estados com a concorrência econômica entre grupos nacionais de empresários.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

HOBSBWAM, Eric (Fichamento)

HOBSBAWM, Eric. A Revolução Centenária in “A era dos impérios”. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.

O autor parte da idéia da comemoração de centenários (inventada no século XIX) para colocar a questão: “Qual seria o resultado de uma comparação entre o mundo dos anos 1880 e o dos anos 1780”.
O “mundo” dos anos 1880 era “genuinamente global”:
· Mapeamento e exploração mais completos do mundo.
· Maior velocidade nos transportes e na transmissão de informações
· Aumento demográfico
· Desenvolvimento da tecnologia
· Maior produção de riqueza

“Primeiro Mundo” e “Segundo Mundo”
“(...) ao abordar 1880, estamos menos diante de um mundo único do que de dois setores que combinados formam um sistema global: o desenvolvido e o defasado, o dominante e o dependente, o rico e o pobre. Mesmo esta descrição é enganosa. Enquanto o (menor) Primeiro Mundo, apesar de suas consideráveis disparidades internas era unido pela história e por ser o portador conjunto do desenvolvimento capitalista, o Segundo Mundo (muito maior) não era unido senão por suas relações com o primeiro, quer dizer, por sua dependência potencial ou real.”(pg. 33)
"A tecnologia era uma das principais causas dessa defasagem, acentuando-se não só econômica como politicamente. Um século após a Revolução Francesa, tornava-se cada vez mais evidente que os países mais pobres e atrasados podiam ser facilmente vencidos e (salvo se fossem muito grandes) conquistados, devido à inferioridade técnica de seus armamentos” (pg. 32)
No entanto, o autor enfatiza que mesmo dentro do chamado “Primeiro mundo” as disparidades são importantes:
“Assim, grandes extensões da ‘Europa’ estavam, na melhor das hipóteses, na periferia do centro do desenvolvimento econômico capitalista e da sociedade burguesa. Em alguns deles, a maioria dos habitantes vivia visivelmente num século diferente do de seus contemporâneos e governantes(...)” (pg. 35)
Segundo o autor:
“Existia claramente um modelo geral referencial das instituições e estrutura adequadas a um país ‘avançado’(...)Nesse sentido, o modelo da nação-Estado liberal constitucional, não estava confinado ao mundo ‘desenvolvido’. De fato, o maior contingente de Estados operando teoricamente segundo esse modelo(...)seria encontrado na América Latina.” (pgs. 41-2)
Assim o modelo ideal de “país moderno”, que incluía democracia, liberalismo e industrialização só era de fato atendido por alguns poucos países ‘desenvolvidos’ como Inglaterra, França, Alemanha e EUA, e excluía mesmo partes da Europa consideradas parte do “Primeiro mundo” apenas por uma questão de história e cultura comuns. Do mesmo modo a expressão “Segundo Mundo” servia não apenas para designar aqueles povos que não se encaixavam no modelo industrial liberalista, mas também os que não partilhavam da experiência cultural e histórica européia.

Tecnologia e progresso
“O que definia o século XIX era a mudança” afirma o autor. A marca da mudança estava no avanço da tecnologia e suas conseqüências, principalmente econômicas. A revolução industrial permite o incremento de maquinaria a vapor, construção de ferrovias, invenções tais como o telégrafo, turbinas, motores de combustão interna, eletricidade, automóveis etc....
Já fora dos ‘países desenvolvidos’, “a novidade, especialmente quando trazida de fora por gente da cidade e estrangeiros, era algo que perturbava velhos hábitos arraigados, mais do que algo portador de progresso” (pg. 52)
“Assim, sendo, o ‘progresso’ fora dos países avançados não era nem uma suposição plauisível, mas sobretudo um perigo e um desafio estrangeiros. Os que se beneficiavam com ele e o acolhiam favoravelmente eram as reduzidas minorias de governantes e citadinos(...)”
“O mundo estava, portanto, dividido numa parte menor, onde o ‘progresso’ nascera, e outra, muito maior, onde chegara como conquistador estrangeiro, ajudado por uma minoria de colaboradores locais” (pg.53)
A idealização do progresso e da tecnologia, gerou uma avidez crescente pelo avanço técnico e científico. Os êxitos das burguesias ocidentais e a idealização da técnica e da ciência, aliada à cientifização do discurso social levaram à constituição do darwinismo social, isto é uma racismo científico e uma naturalização das desigualdades sociais.
“A humanidade foi dividida segundo a ‘raça’, idéia que penetrou na ideologia do período quase tão profundamente como a de ‘progresso’(...) Até nos próprios países ‘desenvolvidos’, a humanidade estava cada vez mais dividida na cepa enérgica e talentosa da classe média e nas massas indolentes, condenadas à inferioridade por suas deficiências genéticas. Apelava-se à biologia para explicar a desigualdade, em particular aqueles que se sentiam destinados à superioridade.” (pg.54)
O autor termina o texto com o questionamento: aonde levava o progresso? E conclui:
“Por volta dos anos de 1870, o progresso do mundo burguês chegara a um ponto em que vozes mais céticas, ou mesmo mais pessimistas, começaram a ser ouvidas. E elas eram reforçadas pela situação em que o mundo se encontrava nos anos 1870, e que poucos haviam previsto. (...)Após uma geração de expansão sem precedentes, a economia mundial entrava em crise.” (pg. 56)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Indigènes (Dias de Glória)/ La Ciociara (Duas Mulheres)

Descobri a existência desse filme outro dia...Aqui no Brasil acho que não foi para o cinema, mas saiu direto em dvd. Ainda não pude vê-lo, mas com certeza vou dar uma olhada assim que possível. "Indigènes" ou "Days of Glory" ("Dias de Glória") é um filme de 2006 dirigido pelo franco-algeriano Rachid Bouchareb. Conta a estória dos soldados das colônias francesas na África(marroquinos, algerianos, Tunisianos etc...), que lutaram ao lado dos aliados na Segunda Guerra.
Na Itália o filme foi amplamente criticado por mostrar uma versão idealizada desses soldados muitos dos quais, durante a ocupação da península italiana, foram responsáveis por estupros em massa de mulheres e crianças, em especial na região central da Ciociaria, além de assassinatos e outros crimes de guerra. Enfim, esses eventos são motivo de muitas releituras e discussões, em especial na Itália: muitos vêem nos crimes dos indigènes("indìgenas", como eram chamadas essas tropas) uma reação brutal à violência do Colonialismo; outros os atribuem à combinação entre a violência e anarquia da guerra e a complacência dos oficiais franceses responsáveis por essas tropas, já muitos grupos supremacistas brancos, em especial na Itália, usam esse dado histórico para atestar a inferioridade/desumanidade das pessoas de origem árabe/africana.
Versões a parte, para assistir o trailer de Indigènes:
Para ver o lado italiano dessa estória o filme "Duas mulheres" ("La Ciociara") dirigido por Vittorio de Sica e estrelando Sophia Loren (num papel que lhe deu o Oscar) é uma boa pedida. Nesse filme Loren (com meros 26 anos) interpreta Cesira, a mãe da adolescente Rosetta a quem deseja proteger da guerra, levando-a para sua cidade natal, na Ciociaria. No caminho de volta as duas são atacadas por um grupo de indigènes o que muda radicalmente seu relacionamento.
Para ver a cena inicial do filme:

segunda-feira, 31 de março de 2008

"Uma folha na tempestade"- Lin Yutang


Um dos meus livros favoritos. É dificílimo de achar(a edição que eu tenho é de 1958, para dar uma idéia), então quem topar com ele numa livraria ou sebo não tenha dúvidas: compre! "Uma folha na tempestade" é um livro de Lin Yutang, um dos mais famosos autores chineses,(a tradução brasileira-derivada da versão em inglês- foi feita por ninguém menos que Monteiro Lobato). Nascido em 1895 Yutang presenciou momentos chaves da história contemporânea da China, como o avanço do imperialismo e as duas grandes guerras. Suas experiências pessoais e as de seus contemporâneos foram plasmadas nesse romance. "Uma folha na tempestade", romance de 1941, segue a trajetória de três personagens através das influências culturais e políticas do imperialismo e os efeitos da Segunda Guerra e das atrocidades cometidas durante a ocupação japonesa. Os personagens principais são: Poya, um rico homem de negócios com uma visão pragmática dos eventos, Lao Peng, melhor amigo de Poya, um budista preocupado com os dramas humanos ao seu redor, e Malin, uma jovem misteriosa, cuja vida flutua ao sabor dos acontecimentos históricos e políticos como a "folha na tempestade" do título. Seguem alguns trechos do livro:

"-(...)O imperialismo é uma arte humana.
-Não creio-replicou Tan.-É uma questão econômica. De oferta e procura, de matérias primas e mercados.
-É o que dizem as universidades-volveu Poya-Quando abrimos uma loja, é claro que temos de saber tudo a respeito de escrituração, compra de 'stocks', rendimento, depreciação, capital, crédito etc. Mas em última análise o que vale é a arte de fazer com que os fregueses gostem da loja e voltem. O imperialismo é uma arte humana muito sutil, é a arte de governar homens, especialmente homens de raças e crenças diferentes. Ao imperialista cumpre compreender a natureza humana"

"Não. O terror era o que o homem de uma raça pudesse fazer para o seu irmão de outra raça. Gorilas não agarram prisioneiros, embebem-nos em querosene e deitam fogo-coisa apenas para rir-"

domingo, 30 de março de 2008

"Amor e Guerra" - CNT

Na próxima terça, às 22:00hs o canal CNT vai passar o filme "Amor e Guerra" (Título original: "Resistance") Conta a estória de um soldado americano que se apaixona pela esposa de um dos membros da resistência belga. É um filme recente (2003) e pela chamada me pareceu ser mais um romance água com açúcar do que um filme centrado nos dados históricos, mas como essas chamadas televisivas podem ser bem enganosas acho que é assistir para descobrir...Mais informações:

http://www.65anosdecinema.pro.br/Amor_e_guerra.htm

FALCON, Francisco (Fichamento)

FALCON, Francisco. “O capitalismo unifica o mundo” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão (org.) O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. p. 11 a 76.

Introdução: Conceitos, espaços e tempos.
a) Conceitos
“Mercado”- O autor usa a definição moderna que toma “mercado” como “centro das trocas” onde a “troca real” (comércio) se dá por meio da moeda.
Sobre a existência do Capitalismo e do “Mercado internacional”: o autor admite duas teorias:
1ª- mercado internacional como “um processo que envolve os Estados modernos europeus, enquanto formações sociais diferentes(...)que disputam entre si os lucros(...) resultantes da exploração do comércio colonial” (pg. 17)O período anterior à Revolução Industrial é dito “pré-capitalista”
2ª-Perspectiva que vê o “mercado mundial”,uma totalidade que “integra e hierarquiza regiões e modos de produção”. “Há apenas uma transição, precisamente aquela que deu origem ao sistema (século XVI); a acumulação é um processo único(...)” (pg.17)
b) Os espaços e tempos
“Antigo regime econômico”- Predominância da agricultura / precariedade dos transportes / Indústria de bens de consumo
“Novo regime econômico”- Predomínio da produção industrial / maior rapidez e capacidade de transportar cargas maiores / crises de superprodução e flutuação de preços.
c) Historiografia da Expansão
Enfoque econômico e social: dá ênfase à tipologia da colonização e no caráter dependente das áreas coloniais
Enfoque na política da expansão: volta-se para as formas de resistência e práticas de cooptação ou interpenetração social.
Enfoque cultural: centrado nos “encontros, e desencontros de culturas e civilizações”

Parte I-A era do Capital(ismo) comercial.
a) Pressupostos políticos, sociais e culturais da expansão pré-capitalista
1.O quadro político: Estado Absolutista e desenvolvimento mercantil e manufatureiro
2.As estruturas sociais: Ordem estamental, crescimento da burguesia e seus negócios
3.Os dados culturais:crise da autoridade “antiga”, viagens transoceânicas, empirismo e avanços científicos, imprensa e difusão do saber.
b) A expansão mercantil
1. Antecedentes medievais
“Revolução econômica” dos séculos XI e XII; expansão marítima e comercial dos séculos XV e XVI
2.Circuitos comerciais: mercados intra-europeus e extra europeus
Circuito intra-europeu: mercados do Mediterrâneo, Atlântico, Báltico e Europa centro-oriental
Circuitos extra-europeus: Américas, “Índias” e China.

Parte II-A era do Capitalismo Industrial
-Introdução
Tradicionalmente divide-se a história do Capitalismo oitocentista em duas fases: do final do século XVIII até 1870-“Era do Capitalismo Industrial”- e de 1870 a 1914-“Era do Capitalismo monopolista e imperialista.
a)Pressupostos políticos e culturais da expansão
Industrialização e Estados-nações
Industrialização e constituição do proletariado levam ao surgimento de movimentos sociais, libertários ou nacionalistas. A burguesia industrial abandona o ideal de “revolução” à medida que esse passa a ameaçar a ordem / hegemonia burguesa.
O Nacionalismo exarceba a xenofobia o que, aliado ao cientificismo, leva ao desenvolvimento do Darwinismo social e geopolíticas racistas.
b)A expansão capitalista oitocentista
1.Características gerais:
Burguesia “conquistadora”
Aceleração da expansão pode ser creditada a dois fatores: a “grande depressão” (1873-96) e a emergência de novas potências-E.U.A, Alemanha, Japão etc...-
Elementos da expansão
Exploradores-aventureiros e cientistas, mapeamento de territórios
Missionários-ideal de evangelização
Militares-”heróis coloniais” que levariam a “civilização” aos “selvagens”
Empresários-exploradores de recursos e mercados
Lógica da expansão-”A expansão colonial oitocentista(...) apresenta-se assim como uma curiosa mistura de aventura, espírito científico, fé missionária, conquista militar e ambição e sede de lucro”. A expansão também é vista como “intrinsecamente benéfica” para os povos colonizados, aos quais levaria o “progresso e a civilização”
“Cenários” geopolíticos da expansão colonial:
- Império Otomano
-África sul-saariana
-Regiões Asiáticas

domingo, 23 de março de 2008

BERMAN, Marshall. (Fichamento)

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” pp. 24-49.

Sobre a modernidade e o “ser moderno”
Berman define a modernidade como um conjunto de experiências. “Ser moderno” é compartilhar dessas experiências, é encontrar-se num ambiente que promove “autotransformação e transformação das coisas em redor-mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.” (pg. 24) Ou seja a modernidade é um processo de constante mudança e destruição/reconstrução/destruição do nosso universo social.
Fases da modernidade
O autor divide a modernidade em três fases:
· 1ª fase-Início do século XVI ao fim do século XVIII
· 2ª fase-“Onda revolucionária” de 1790 até o Século XIX
· 3ª fase-Século XX
Início da Modernidade
Rousseau, com o romance “A nova Heloísa” exemplifica o clima da primeira fase da modernidade. Uma “atmosfera de agitação e turbulência(...)expansão das possibilidades de experiência e destruição das barreiras morais e dos compromissos sociais” (pg. 27) Seria o princípio do “turbilhão de desintegração e mudança”
Modernidade no século XIX
No século XIX, com o advento das revoluções ditas burguesas e o desenvolvimento tecnológico resultante da Revolução Industrial, com todas suas conseqüências sócio-econômicas, a modernidade passa por novas transformações:
Marx- “Todas as nossas invenções e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças materiais” (pg. 29) (...) “Todas as relações (...) com seu travo de Antigüidade e veneráveis preconceitos e opiniões foram banidas: todas as novas relações se tornam antiquadas antes mesmo que cheguem a se ossificar” (pg 31)
Nietzsche: “(...) A moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausências e vazio de valores, mas ao mesmo tempo em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades” (pg. 32)
Ambos, Marx e Nietzsche, vêem no surgimento de um novo tipo de homem a possibilidade para a formação de novos valores que permitam à humanidade lidar com o desenvolvimento técnico, social, e econômico e desafios trazidos pela modernidade.
Modernidade no século XX
O autor compara as visões sobre a modernidade encontradas nos pensadores do século XIX e nos pensadores do século XX. Para Berman, durante o século XIX a modernidade era vista de forma mais complexa, com tentativas de conciliar suas ambigüidades e contradições, com críticas e a busca de soluções e adaptações. Já no século XX o autor vê uma crescente tendência à simplificações e totalizações.
“Aí não há ambigüidades: ‘tradição’- todas as tradições da humanidade atiradas no mesmo saco - se iguala simplesmente a uma dócil escravidão e modernidade se iguala a liberdade(...)” (pg. 36)
O autor também discute a idealização da modernidade e do progresso tecnológico, usando o movimento futurista como exemplo. Berman também acena para a tendência dessa idealização tornar-se tão completa a ponto de desvalorizar, ou eliminar, da noção de modernidade, o elemento humano.
“Muitos pensadores do século XX passaram a ver as coisas deste modo: as massas pululantes, que nos pressionam no dia-a-dia e na vida do Estado, não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade como as nossas; não é absurdo, pois, que esses ‘homens-massa’ (ou ‘homens ocos’) não tenham apenas o direito de governar-se a si mesmos, mas também, através de sua massa majoritária, o poder de nos governar?” (pg. 40)
O autor chama essa postura, que postula a incapacidade das massas de se auto-gerir e defende o “estado de administração total”,de a “‘perspectiva neo-olímpica’ de Weber ampliada e distorcida”, referindo-se à afirmação de Max Weber de que o “todo poderoso cosmo da moderna ordem econômica(...) determina a vida dos indivíduos que nasceram dentro desse mecanismo(...) com uma força irresistível". (pg. 39) Nessa perspectiva pode-se ver a raiz dos movimentos totalitários do século XX.
Atitudes do Modernismo a partir dos anos 60
“Ausente”
O artista/pensador volta as costas para a sociedade e se volta para o “mundo dos objetos” contemplando idéias “puras”.
“Negativa”
Modernismo visto como uma “tradição de destruir a tradição”, torna-se uma “cultura de negação”.
“Positiva”
Busca a eliminação das fronteiras que dividem as diferentes atividades humanas, e tenta abarcar a “riqueza de coisas materiais e ideais” que o mundo oferece.
De acordo com o autor: “Todas essas visões e revisões da modernidade constituíram orientações ativas em relação à história, tentativas de conectar o conturbado presente com o passado e o futuro(...)” (pg.45)
O paradoxo da Modernidade
É central no texto de Berman a questão de como a modernidade, enquanto “turbilhão” de mudanças, idéias, inovações, enquanto crítica de si mesma (já que aqueles que a vivem buscam seus vários sentidos e formas de se adaptar a ela), parece não apenas incapaz de se definir, como de se estabilizar ou renovar, sendo, paradoxalmente, uma permanente efemeridade. Cita Octavio Paz, poeta mexicano que lamenta que a modernidade “(...) cortada do passado e tenha de ir continuamente saltando para a frente, num ritmo vertiginoso que não lhe permite deitar raízes, que a obriga a sobreviver de um dia para o outro: a modernidade se tornou incapaz de retornar a suas origens para, então, recuperar seus poderes de renovação” (pg. 47)
Berman conclui: “Pode acontecer então que voltar atrás seja uma maneira de seguir adiante(...) Esse ato de lembrar pode ajudar-nos a levar o modernismo de volta às suas raízes, para que ele possa nutrir-se e renovar-se, tornando-se apto a enfrentar as aventuras e perigos que estão por vir. Apropriar-se das modernidades de ontem pode ser, ao mesmo tempo, uma crítica às modernidades de hoje e um ato de fé nas modernidades-e nos homens e mulheres modernos - de amanhã e do dia depois de amanhã” (pg. 49)


terça-feira, 18 de março de 2008

"O último dos Justos"- André Schwarz-Bart

Um bom romace, fala sobre o anti-semitismo e a Segunda Guerra Mundial sob uma perspectiva que combina história e misticismo. O autor, André Scharz-Bart, um judeu franco-polônes, fez parte da Resistência Francesa em 43 e recebeu o Prêmio Goncourt de literatura em 1959 com esse livro. É meio difícil de encontrar, quem puder tente procurar na livraria "Casa da Cultura" em Botafogo(que também tem um sebo no segundo andar). Abaixo trechos da introdução de André Billy, da Academia de Goncourt:

"O Último dos Justos"

"A lenda dos Justos é pouco conhecida entre os próprios judeus, sobretudo entre os judeus do ocidente(...)De acordo com tal lenda, o mundo repousaria sobre trinta e seis Justos, os Lamed-waf, cuja sobrevivência impede a humanidade de aniquilar-se, seus corações tendo o misterioso, o terrível privilégio de abarcar todos os sofrimentos do mundo(...)ao longo de uma disputa entre judeus e nazistas, o avô Mardoqueu tem uma visão que lhe mostra um Justo no pequeno Ernie. Sentindo-se chamado, este se exercita no sofrimento queimando na chama a própria mão. Sente-se atormentado por diversas questões: os judeus não seriam homens como os outros? Por quê os alemães os odiavam tanto? Emocionantes, trágicos sobressaltos de consciência de um pobre menino que deseja entender o destino da sua raça e só obtém respostas decepcionantes, mas, seguindo os conselhos do avô, decide-se pela piedade(...)"